quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Curta Cinema 2008 - Rio



Está a decorrer, entre os dias 30 de Outubro e 9 de Novembro, o 17º Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro. Ao todo serão exibidas 323 curtas-metragens de todas as partes do mundo. Desenrola-se entre Competição Internacional, Competição Nacional, Panorama Carioca, Foco Japão etc.



Casa de Máquinas - Maria Leite, Daniel Herthel, 5 min, Brasil, MG, 2007


Dreznica - Anna Azevedo, 15 min, Brasil, RJ, 2008
O lugar onde a neve encontra o mar. Os dias são repletos de estrelas e as noites cobertas pelo sol. Somente ao não ver é que conseguimos percebê-la. Construído com arquivos caseiros de Super 8 dos anos 1970. Uma lírica jornada por meio de imagens e sensações reveladas pela memória e pelos sonhos daqueles que não vêem.


Apesar de não ter assistido à última no próprio festival, procurei no youtube algumas outras curtas presentes na programação do evento. Esta despertou-me particularmente, ao introduzir uma nova questão que vai ao encontro do tema que mais tenho problematizado ultimamente.
A curta que apareceu na pesquisa terá sido feita por alguém que assistia à original (apesar de achar que isso não é permitido =P) e, através dela e do próprio tema sugerido pelo título (Enquadrando), recorreu a esse movimento da câmara em torno do mundo das imagens do outro, enquanto produtos do real manipulado pela sua visão, procurando afirmar o seu próprio conceito de realidade?! Poderá ser um enquadramento a partir de outro enquadramento?! De que realidade se pode falar, neste sentido? Se nem a fotografia casta, que representa selecção de tema, de centralidade e limites, e com suas cores adulteradas, reproduz o real palpável?!... Aquela outra nova dimensão multiplica identidades da imagem, sobrepõem-nas e amarra-as entre si. A segunda supera a primeira, ao cortar o todo que esta tela abrange, e assim aconteceria sucessivamente se se tratasse de mais intervenções. Neste sentido, o suposto espectador passivo, simultaneamente desconstrói e atribui uma nova plenitude à imagem. Na curta em questão, para além do voyeur filtrar a realidade do outro, que está presente apesar de alterada, ainda revela a sua própria percepção da realidade sem anteriores intermediários, ao direccionar e centrar o olhar da sua camâra directamente sobre o tema(s) que selecciona do que o envolve.
Será esta a curta em si mesma? Será toda ela o produto original, pretendendo alargar exactamente esse questionamento e, motivar múltiplas linguagens num mesmo ecrã?
Independentemente da verdade que gerou toda esta curta, a fotografia tem realidade própria. Jamais poderá ter o pretensiosismo de ser o que diz reproduzir. Essa realidade enquanto tema, ao qual a imagem pensa ser fiel, não é mais do que pretexto para se estabelecer a hierarquia entre o que se vê, quando se vê e como se vê, e o que é e existe, realmente. Só quando pretende sublinhar essa consciência deliberadamente, é que a imagem consegue ser genuína e livre.

A curta original, seja ela qual for: =P
Bildfenster/Fensterbilder (Enquadrando) - Bert Gottschalk, Alemanha 2007
No youtube:
Título: Homage
Descrição: Okviri / Bildfenster Fensterbilder, author: Bert Gottschalk Fantastična odiseja doktora Zodiaka, author: Matija Pisačić kino Europa, Animafest Zagreb 2008

1 comentário:

margarida. disse...

"recorreu a esse movimento da câmara em torno do mundo das imagens do outro, enquanto produtos do real manipulado pela sua visão, procurando afirmar o seu próprio conceito de realidade?! (...) De que realidade se pode falar, neste sentido? Se nem a fotografia casta, que representa selecção de tema, de centralidade e limites, e com suas cores adulteradas, reproduz o real palpável?!... Aquela outra nova dimensão multiplica identidades da imagem, sobrepõem-nas e amarra-as entre si."

Credo, Luisa. Muito sinceramente,
Qu'é'q andas a tomar?!

Maior Beijo 'Garota'. :)