O princípio do projecto é o movimento. O movimento da música e da dança, do rock e da gafieira, das pessoas que circulam, que se encontram. O movimento circular do beijo, do abraço, das mãos que se acariciam. Das escadas, e das rampas de Santa Teresa, do bonde, do sol, da lua e das estrelas que giram no céu. Das sombras das palmeiras e dos arcos que rodam durante o dia, fugindo do sol. Enfim, o movimento de um circo que quer voar.
A proposta do novo Circo Voador é baseada na criação de formas e espaços dinâmicos com forte identidade sem, no entanto, abandonar o despojamento característico do Circo original. Ainda como premissa mantida no novo projecto, a permeabilidade dos espaços foi sempre procurada, enaltecendo o movimento das pessoas pelas rampas, jardins, varanda e etc, e reiterando o carácter democrático do novo Circo. As edificações descolam-se do solo, gerando uma planta global versátil. Os espaços interiores confundem-se com os exteriores.
A Lapa, área periférica do centro da cidade, adjacente ao bairro de Santa Teresa e de relevante importância na cultura e história cariocas, é hoje um importante foco de preservação do património cultural e arquitectónico e, simultaneamente, uma área de crescente revitalização e reconversão de edificações, antes residenciais, que agora abrigam actividades culturais diversas. Inserido neste contexto, o terreno do Circo sofre especial interferência do antigo aqueduto da cidade, hoje conhecido como “Arcos da Lapa” e que funciona como ponte do bonde de Santa Teresa. Sua imponente presença, aliada à situação paisagística preexistente, foi determinante no projecto e sua implantação.
Melhor do que qualquer desenho técnico ou render, o movimento e experiência físicos, principalmente nos dias de festa, avaliam o desempenho e sucesso de um projecto cujo objectivo é suportar o fluxo de muita gente e responder, simultaneamente, às premissas de conforto espacial, acústico, etc.
O projecto em causa, segundo a minha opinião, para além de responder ao que foi proposto, consegue camuflar-se de forma bastante coerente numa zona que apresenta a dinâmica nocturna mais característica e acelerada do Rio, a Lapa. Esta dissimulação do Circo relativamente ao resto do bairro representa um gesto de mestria, já que tanto o edifício como os complexos adjacentes rompem abruptamente com a escala dos bares e casinhas envolventes. Até a música consegue passar despercebida quando se passeia do lado de fora, mesmo estando encostados ao muro que delimita o lote. O espírito e magia do corpo Voador não só se prendem à tenda, que resulta de uma estrutura e forma alusivas ao evento Circo e ainda acrescenta a dissolução de barreiras dentro/fora; como a todo um arranjo exterior com vegetação tropical, que projecta a "folie" para um lugar afastado dos olhares da cidade; como às próprias pessoas e energia que emanam, quando completam e contagiam o espaço com a sua algazarra (fique claro que não menciono isto no sentido pejorativo. Aliás, o Circo Voador foi realmente o único sítio, até agora, onde encontrei festas à "moda europeia", apesar do espaço ser bastante superior à maioria dos que estão associados à noite de Portugal).
Concerto de Justice, Circo Voador
Parte 1
Parte 2
Filmagem: Mariana
Mix Hell fez a abertura
No meio deste ambiente encontrei uma grande personagem, exclusiva e fantástica! Estava impávido e sereno no meio da pista... =P
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